quinta-feira, maio 04, 2006

Come Back...

Traço em linha recta horizontal, crio linhas irreais por entre dois pontos erradamente siameses, quase se tocando, ainda que mantendo uma distância secular....contemplam-se imóveis, obrigatóriamente imóveis, sós, parados, à espeara...
Sempre que volto e volto muitas vezes, demasiadas até, repito com ansiedade o gesto de abertura, espero sempre algo que sei não existir, espero que lá esteja, quero, sei que não está, mas continuo a acreditar que está, repito o gesto involuntariamente, continuarei sempre a repetir... Nunca lá estará nada, limito-me a precisar de acreditar que está...
Porque as memórias surgem sempre a preto e branco, revejo-me na distância continua do lá até aqui, da linha que vai oscilando, que persiste em se manter tenuamente fina, rompendo na voracidade da imagem irreal.
Volto e olho, abro e fecho, volto fechando, conquisto por fim o castelo de areia fina acabada de secar, tento acabar o meio, segurar uma das pontas e esperar que a outra se mantenha imovel, soprar com força até que caia em cima da realidade desconecta.
Suplico para ouvir apenas mais uma vez chamar-te tranquilamente. Persistencia da onda sobre o voltar, que regressa, que parte violentamente logo de seguida, que vai e vem, mas que não fica...
Repito a vontade constantemente irreal de te chamar, traço ainda com mais força apenas o passado, sorrindo cristalinamente ao que nunca virá...
E o fim chegou correndo...

3 comentários:

Anónimo disse...

BEM DEVAGAR

Sem correr
Bem devagar
A felicidade voltou para mim
Sem perceber
Sem suspeitar
O meu coração deixou você surgir

E como o despertar depois de um sonho mau
Surgiu o amor sorrindo em seu olhar
E a beleza da ternura de sentir você
Chegou sem correr
Bem devagar

Amor velho que se perde
Sai correndo pra outro ninho
Amor novo que se ganha
Vem sem pressa, de mansinho

Gilberto Gil, 1962

Unknown disse...

A continuação do Black...
Off he goes...
Desculpa a interrupção...
Mas até acho que ajudou...
Muito bom texto...

Cinza disse...

A morte das sensações é inevitável... a efemeridade das pequenas-grandes-coisas, que partem, que se desmoronam... no fundo o importante é manter esse retrato de tinta a que chamamos memória e não deixá-lo cobrir de negro o presente!!

(Queremos mais posts assim!!! Lindo e bem escrito!)

Beijinho
:)